O que eu vi na Arena Joinville

O que era pra ser mais um dia de trabalho em Joinville virou algo que nunca vou esquecer. Como me disse o Polidoro Junior no telefone, uma coisa é ver pela TV, outra bem diferente é estar lá, vendo ao vivo.

Cabeça fria, 115 quilômetros depois, dá pra contar o que eu vi. Agora ninguém quer ser o pai da criança, e pelo jeito não vai ter exame que ache o DNA da responsabilidade. Algo absurdo, terrível, chocante, que faz a gente pensar o porquê disso tudo.

Vamos aos pontos: chegando na Arena, vi as primeiras confusões que diziam que não seria um jogo normal. Os torcedores vascaínos (muitos que tem pouquíssimas oportunidades de ver seu time ao vivo no estádio) não sabiam que o acesso para eles era do outro lado. Teve tapa, cusparada e muita ofensa. Sim, eu vi tudo isso.

Chegando no estádio, no credenciamento, a moça que me deu a identificação me disse: "o cara da Rádio Globo passou aqui e me falou: se o Vasco for rebaixado, se escondam!"

Na estrada, voltando, fiquei zapeando as rádios do Rio. Com o fato consumado, a tese de tragédia anunciada é até natural de ser declarada. Mas vamos ao que eu vi e entendi: durante a semana, era sabido que a Polícia Militar não entraria no estádio (veja aqui), por causa de uma ação do Ministério Público que achava que o serviço (que é pago) não poderia ser dado em eventos particulares. Nesse momento, a PM soltou um comunicado dizendo que atendia ação civil pública do Ministério Público que, por sua vez, disse via twitter que não pediu nada. Jogo de empurra que não vai ter fim.

O "super cordão de isolamento"
Voltamos ao jogo. Vem cá, quem é o ser humano dotado de desinteligência que achou que duas cordinhas com 4 seguranças ia impedir um tumulto de duas torcidas que se estranharam lá fora? A foto que eu tirei antes do jogo diz tudo: alguns homens de laranja, desarmados, inertes, eram os responsáveis pela separação. Primeiro ponto, se a PM foi descartada e essa ordem foi aceita, o planejamento da segurança foi absurdamente mal feito.

Sim, eu vi: lá pelos 17 minutos, ambas as torcidas pularam a cordinha e foram se encontrar na curva do placar. Os homens de laranja não tinham o que fazer, e o pau comeu até a Polícia Militar entrar em ação e sentar a borracha com bombas de efeito moral. Aí, os machões fugiram, mas o estrago já estava feito. Uma briga que era tramada pela internet e que provocou revolta até daqueles torcedores atleticanos que nada tinham a ver com organizadas. Sim, eu vi isso. E se você ver as fotos que giram por aí, é facil distinguir: onde tem arquibancada azul, é área dos vascaínos.

Errou também o árbitro, que não perguntou onde cargas d'água estava o policiamento. Sim, porque de polícia a torcida tem medo. Seguranças de gravata serão atropelados. E as cenas do que aconteceu, todo mundo viu e não preciso ficar explicando. Era sabido que a Polícia não ia entrar, logo, o Atlético sabia a bucha que tinha na mão. A FELEJ, órgão da Prefeitura de Joinville que administra o estádio, tinha o contrato na mão que previa as responsabilidades do mandante. Eu vi o contrato, que dava a responsabilidade pela segurança e danos ao mandante. Num primeiro momento, me parece que eles estão isentos.

Vamos à briga de MP e PM: em quase todo o país, quem dá esse tipo de segurança é a Polícia Militar. O Ministério Público catarinense pensou diferente, e criou uma bomba relógio. Repito: o serviço da PM é pago, o pessoal não vai lá de graça. E sem querer aqui discutir se eles fazem bem ou mal seu serviço, eles tem treinamento e armas pra isso. A turminha de laranja não tem. Estádio não é balada.

E também tem outra coisa. Sim, eu vi: a Arena Joinville tem um setor isolado para torcida visitante, com duas cercas. Para vender mais ingressos, o Atlético abriu mais dois setores da Arena para os vascaínos, sem nenhum tipo de proteção extra, além das cordas e dos homens de laranja. Sem comentários.

Tragédia que infelizmente levou o nome de Joinville para o mundo da pior forma possível. E eu, por dever do trabalho, estive lá vendo tudo isso. Se eu acredito em justiça nesse caso? Sinceramente, não. Mas eu não desisto. As vezes dá vontade de largar futebol por causa dessas coisas, mas ainda acredito que, um dia, as coisas podem mudar.


Comentários

  1. Tu disse tudo Rodrigo, não tenho nada mais a acrescentar: a não ser que fora do estádio, nos estúdios a bagunça também foi generalizada. Os plantões da Mais e da Clube de cabelo em pé com a repercussão da tragédia e as rádios do Brasil e do Exterior ligando direto às emissoras. Lamentável a situação que o MPSC deixou na Arena. Não seremos lembrados pelo turismo mas sim pela vergonha que houve no estádio...

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